terça-feira, 5 de maio de 2009

"Quem não bebi e não fuma, morre saudável!"

Quando era criança, só pensava no mal que o cigarro fazia. Nas doenças, no câncer em específico. Brigava com meu pai orientando-o sempre a parar de fumar. Eu, juntamente com minha mãe, conseguimos este triunfo. Meu pai ficou sem fumar um longo tempo, mas logo teve suas recaídas. Eu, uma pessoa que desconhecia o universo e os significados da nicotina, não conseguia entender aquilo tudo. O poque que as pessoas precisavam tanto de cigarro, e porque fumavam sabendo de todas as inevitáveis conseqüências que por ele seriam causadas. Eu não sabia ainda, seria uma questão de tempo para que entendesse tudo isso.
Na minha adolescência, não fumava. Para mim o cigarro era uma espécie de infantilidade. De uma rebeldia típica da idade. Nessa fase da minha vida, tive que conviver com problemas atípicos pra uma pessoa da idade. Os problemas conjugais dos meus pais eram repassados para mim. Participava de coisas que teoricamente não me diziam respeito. Tive que amadurecer, me comportar como um miniadulto, o que me tornava de certa forma uma pessoa certinha um tanto caricata.
Logo veio a faculdade. E percebi que não tive uma adolescência “normal”. Não passei pelas experimentações e rompimentos característicos dessa fase. Tive que viver duas fases em uma: viver momentos como adulto e outros como adolescente. Estava na fronteira. Tinha sido até então uma pessoa criticada pela minha espécie de contradição visual-ações e agora queria, talvez, ser aceito. Encontrar um grupo onde essas duas coisas pudessem coexistir.
Lá estava ela. Japonesa, poder, luxo e sedução. Cheia de poses. Personalidade forte. Fumante. Essa pessoa passou a ser uma grande amiga minha durante a faculdade. Ela se envolvia com as pessoas mais legais do curso, que por acaso, fumavam e se entorpeciam. Pessoas descoladas. Queria fazer parte de tudo aquilo! Queria ser como eles! Já era tempo de abandonar o grupo das pessoas caretas e fazer parte dos transgressores. Porém, eu não bebia, não fumava, não fazia sexo. Um dia numa festa foi questionado sobre tudo isso. Não soube responder como um garoto que adorava rock, e usava uma grande quantidade de brincos era tão certinho!
Fumar já não era um ato inconseqüente pra mim. Era um símbolo de poder. Um rito de passagem. A imagem de minha amiga japonesa não saía da minha cabeça. Toda aquela desenvoltura fumando... aiii... eu queria fumar também!!! eu tinha que aprender!!!! eu queria ser daquele jeito!
Aprender fumar não foi fácil. Eu não tinha jeito pra coisa. Não sabia segurar, acender, tragar... afff... foi com muita perseverança que aprendi a fumar! E com muita propriedade que comecei a fazer isso em lugares públicos. E também, foi com muita timidez que comprei minha primeira carteira de cigarro.
Hoje sou um viciado em nicotina. Já tentei parar várias vezes! Mas sempre volto. Não sei mais o que o cigarro simboliza pra mim. São sentimentos muito complexos e contraditórios. As vezes sinto nojo, as vezes me refugio em seu consumo. As vezes ele me faz companhia. Uma vez, uma ex-orientadora minha me disse que na Rússia existe um ditado: “quem não bebi e não fuma, morre saudável”. Esse ditado sempre me conforta quando me vejo bêbado e com o pulmão estourando de tanto fumar!!! rs...