Hoje meu dia começou péssimo. Estava morrendo de dor de dente... meu sisos, mesmo que tenham sido retirados, continuam me incomodando bastante. com dores extremamente incomodas, fui para a aula de uma matéria do mestrado: Quimiometria... uma espécie de química estatística computacional! Se você ficou chocado com o nome da matéria e ficou se indagando sobre o que estudo isso, fique tranqüilo! Você não é o único! Às vezes fico olhando por que caminhos o vento soprou o barco da minha vida... e também me assusto!
Naquela aula super trivial, não conseguia me concentrar de jeito nenhum. A dor não permitia. Aquele programinha de estatística multivariada é terrível! Sempre me perco em seus comandos. Eu demonstrei dúvidas em coisas básicas durante quase toda a aula. O momento crítico foi quando o professor disse que eu estava abaixo da média da turma. Eu sabia que era verdade. Uma verdade dura por sinal. Ergui a cabeça e segui caminho.
Passei à tarde com um grande amigo: o vinny. Assistimos um filme que contava a história de um homem que era abusado sexualmente por três mulheres! O filme que nos fez pensar e repensar, como sempre fazemos, nas questões de gênero e nas relações de poder. O único problema era que o fim do filme estava estragado. Mas tudo bem! Outra coisa que fizemos foi rir do sensacionalismo em cima de um caso de uma menina que foi arremessada de um prédio pelos pais. Ainda nos surpreende o poder da mídia.
Como de costume, conversamos... conversamos... e conversamos muito! As horas passavam numa velocidade muito grande. Nossas conversas tomam profundidades que às vezes dão inveja a Marxs e Adornos! Rs... Uma dos assuntos que mais nos incomodam é a velhice, a solidão, o medo de fica caduco e obsoleto. Existe uma concepção hegemônica de que o destino de grande parte dos gays são o consumismo e a solidão na velhice. Geralmente, quando pensamos na velhice, pensamos numa vida sozinha. Não conseguimos ou não paramos pra pensar que não é só a gente que vai envelhecer, mas toda uma geração de gays e lésbicas que se libertou e se assumiu como tais.
Percebe-se claramente que os homossexuais mais velhos, de maneira geral, não aprenderam a viver no espaço público. Não existe numa cidade como Goiânia, um lugar, um ambiente pra esse público e eles por diversas questões não se encaixam nos locais gls existentes. Na verdade, esse público socialmente não existe. Eles são invisíveis. Uma vez um professor universitário gay, 50 anos, se queixou do estigma que é ser uma maricona. Que as bichas velhas quando eram jovens não tinham pra onde ir, e hoje não tem coragem de sair. Elas são corpos abjetos nessa novíssima geração que acaba de sair do armário. Uma geração que ainda não se deparou com o fato de envelhecer e esquecem que esse é o destino de todos.
Eu e o vinny começamos a devagar sobre o envelhecimento em conjunto, de nós e nossos amigos. Como estaríamos daqui há 20 anos. Imaginamos uns bem gordinhos, outro bem pintosos... outros arrogantes e bem-sucedidos, outro nem tanto. Enfim, no fim das contas, todos juntos, se divertindo... curtindo as baladas da terceira idade. Somos filhos de uma geração, na qual gays e lésbica, ou pelo menos grande parte deles, já se mostram, possuem uma vida pública, laços de contigüidades... constituem redes de solidariedades. Não nego que o preconceito contra esse grupo ainda é gritante, principalmente misturado com uma pitada de questões raciais e preconceitos de classe. Mas se olharmos para trás, e nem precisamos ir longe: se voltarmos os olhos pra década de 80, percebemos que as homossexualidades praticamente não existiam no espaço público. Eram totalmente invisíveis. Hoje, grande parte das pessoas tem um amigo gay, as homossexualidades são muito discutidas. Temos muito mais liberdade para nos relacionar com nossos pares. Os lugares “específicos” para gays e lésbicas são cada vez mais invadidos por heterossexuais simpatizantes, ao contrário da grande estigmatização de outrora. Isso é prova de que a sociedade está tornando-se mais austera, fruto de muita luta daquelas fanchas e mariconas das décadas de 70 e 80 que foram verdadeiras desbravadoras e as quais devemos muito.
Espero que essa geração da boite e das roupas disel amadureça. Melhorem com o tempo. Cresçam como seres humanos. Espero não, acredito que daqui 20, 30 anos, exista em Goiânia um lugar onde todos as fanchas mais velhas e as Mariconas se jogam ao som de Madonna (que será considerado algo trash pras novas gerações) e que saibam viver bem sua velhice, que possam construir suas conjugalidades ou não. Que sejam felizes! Que nós todos sejamos felizes e que possamos recordar com nostalgia e carinho o passado de jovens e inconseqüentes que somos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
É, a velhice, a monice, a Química, Marx, decadência, se pensarmos bem tudo está diretamente ligado! :p
e viva a discussão etária, parece tão longe, mas nos permeia e nos empurra cotidianamente. Não sei se minha monisse sexagenária será em goiania, seja onde for espero vivê-la com orgulho e com o mesmo grau de esperança e transformação que experimento hoje.
grande beijo amigo e continue firme no blog, ah, e longe dos cigarros!
Postar um comentário